Maior porta-aviões do mundo no Caribe é 'sinal inequívoco' de que Trump está disposto a usar força militar contra Maduro, diz analista
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Governo Trump envia ao Caribe grupo de ataque com maior porta-aviões do mundo
O envio do maior e mais letal porta-aviões do mundo para o mar do Caribe, anunciada pelo governo Trump na sexta-feira (24), adicionou uma inédita camada à escalada de tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela e configura uma "ameaça direta" ao regime Maduro, aponta um especialista ouvido pelo g1.
✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
Segundo o Pentágono, a missão do grupo de ataque USS Gerald Ford na região será "ampliar e fortalecer as capacidades existentes para interromper o tráfico de drogas e degradar e desmantelar" cartéis de drogas latino-americanos, com os quais o governo Trump diz estar em guerra. (Leia mais abaixo)
"O USS Gerald Ford é um dos maiores poderes de fogo navais que os EUA podem projetar. Seu envio é sinal inequívoco que os EUA estão dispostos a usar força militar muito além do que tem sido feito com os ataques a barcos e lanchas no Caribe. (...) Aprofunda muito as tensões e demonstra uma possível preparação para ações mais diretas contra o regime Maduro", afirmou ao g1 o professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin.
Os porta-aviões têm um fundamental poder estratégico e projetam muito poder por servir de base para jatos e controle do mar e do ar. O USS Gerald Ford, que encabeça uma nova geração de porta-aviões da Marinha dos EUA, é considerado o principal ativo americano para projeção de poder, dissuasão e controle do mar. Isso porque ele tem capacidade de abrigar até 90 caças de ataque. Leia mais sobre o porta-aviões aqui.
Segundo Brustolin, o poder de fogo do grupo de ataque USS Gerald Ford —que inclui também três destróieres e cinco esquadrões de jatos F-18 e helicópteros de ataque— é desproporcional com qualquer operação de combate ao narcotráfico, e dá dicas dos próximos passos que os EUA podem tomar.
Por isso, o envio desse aparato militar à região, que já conta com uma grande presença militar americana, é uma ameaça direta ao regime Maduro e um momento exponencial da possibilidade de ataques em solo venezuelano, que provavelmente virão na forma de bombardeios e operações terrestres pontuais, disse o professor ao g1.
"A presença do porta-aviões aumenta drasticamente a capacidade de fazer ataques de longa distância em alvos em terra e permite superar a defesa aérea da Venezuela, que é baseada no sistema S-300, vindo da Rússia", completou Brustolin.
O presidente dos EUA, Donald Trump, já admitiu ter autorizado operações secretas da CIA em território venezuelano e dá sinais de que busca derrubar Maduro do poder. O líder americano disse na quinta-feira que fará ações terrestres contra cartéis de drogas em breve. Fontes do governo americano afirmaram à rede americana "CNN" que Trump está considerando planos para atacar instalações de produção de cocaína e rotas de tráfico de drogas dentro da Venezuela.
A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo, estimada em cerca de 300 milhões de barris. Maduro denunciou que a presença militar americana perto da costa do país tem como objetivo provocar uma mudança de regime. Ele já fez apelos em inglês de "não à guerra maluca" e tentou negociar com o governo Trump, porém sem sucesso. Isso porque ele obterá acesso a esses recursos naturais venezuelanos com ou sem Maduro, segundo Vitelio Brustolin.
Capacidade para 5 mil pessoas e 90 aeronaves: conheça o 'letal' USS Gerald Ford, maior porta-aviões do mundo que Trump usa para pressionar Maduro; INFOGRÁFICO
Envio de grupo de ataque dos EUA ao Caribe
Porta-aviões USS Gerald Ford, navio principal do grupo de ataque USS Gerald Ford da Marinha dos Estados Unidos.
Alyssa Joy/Marinha dos Estados Unidos
Segundo a Marinha dos EUA, o grupo de ataque USS Gerald Ford, destacado à região da América Latina, é composto pelas seguintes embarcações e aeronaves de ataque, além de veículos de monitoramento e suporte:
Porta-aviões USS Gerald Ford;
3 destróieres: USS Mahan, USS Bainbridge e USS Winston Churchill;
Três esquadrões de caças F-18;
Dois esquadrões de helicópteros de ataque MH-60.
As embarcações e aeronaves do Gerald Ford se somam à já grande presença militar dos Estados Unidos no mar do Caribe, que inclui diversos navios de guerra, jatos de combate, helicópteros de operações especiais e aviões bombardeiros.
O USS Gerald Ford é o maior porta-aviões do mundo e também o mais moderno e tecnologicamente avançado dos EUA, segundo a Marinha americana. Incluído ao arsenal americano apenas em 2017 —considerado recente em termos da indústria militar—, o porta-aviões tem capacidade para abrigar até 90 caças e helicópteros, além de dispor de uma pista que serve para pousos e decolagens. (Veja na imagem acima)
O envio militar desta sexta, que ocorre em meio ao acirramento das tensões entre os governos Trump e Maduro, repercutiu na imprensa dos Estados Unidos, que chamou de uma "escalada expressiva" e "grande expansão" da campanha militar de pressão contra a Venezuela. Segundo a agência de notícias Reuters, houve um "drástico aumento" no número de tropas e aeronaves americanas na região da América Latina.
Conheça o USS Gerald Ford, maior porta-aviões do mundo e o mais avançado da Marinha dos Estados Unidos.
Gui Sousa/Arte g1
“A presença reforçada das forças dos EUA na área de responsabilidade do US SOUTHCOM (Comando Sul) aumentará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atores e atividades ilícitas que comprometem a segurança e a prosperidade do território norte-americano e nossa segurança no Hemisfério Ocidental”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell.
O USS Gerald Ford foi visto pela última na costa da Croácia na terça (21). Por conta disso, é possível que ainda demore alguns dias para que o porta-aviões chegue ao mar do Caribe. No dia 1°, o grupo de ataque estava passando pelo Estreito de Gibraltar, e no final de setembro estava na costa da Noruega fazendo exercícios militares.
A escalada de tensões entre EUA e Venezuela já teve bombardeios a 10 barcos venezuelanos no mar do Caribe e no Oceano Pacífico próximo à América do Sul, e cada vez mais aumenta a possibilidade de operações militares de tropas americanas na Venezuela.
Desde agosto, o governo Trump designou cartéis de drogas sul-americanos como organizações terroristas e ordenou operações militares contra eles sob a justificativa de parar o fluxo de drogas que entra nos EUA. Além disso, os EUA acusaram Maduro de chefiar o Cartel de Los Soles e dobraram a recompensa pela sua captura para US$ 50 milhões (cerca de R$ 269 milhões).
Maduro denuncia que o real objetivo da ofensiva dos EUA é o tirar do poder, e na quinta fez apelos em inglês contra uma eventual operação americana, e disse "no crazy war, please" (leia mais abaixo). Já Trump afirmou que fará ações terrestres contra cartéis de drogas em breve, porém sem citar a Venezuela. Anteriormente, o líder americano disse que Maduro "ofereceu tudo" —em referência aos recursos naturais do país— contra uma investida militar no país, no entanto, Trump teria recusado.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) também enfraquecem a versão oficial das operações: o Relatório Mundial sobre Drogas de 2025, da agência da ONU para drogas e crimes, aponta que a droga que mais causa overdoses nos EUA, o fentanil, vem do México, que fica perto da costa oeste dos EUA. Apesar disso, a frota militar americana foi enviada para o mar do Caribe, na outra ponta do sul dos EUA e perto da Venezuela.
LEIA TAMBÉM:
FENTANIL: Trump mira a Venezuela para combater narcotráfico, mas droga que mais causa overdoses nos EUA vem do México
ATAQUES: Trump pode bombardear navios em águas internacionais? Entenda
CIA: Ministro da Venezuela diz que CIA está no país e que planos dos EUA contra Maduro vão fracassar
SANÇÃO: Governo Trump sanciona presidente da Colômbia, Gustavo Petro
'No crazy war, please'
Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024.
AFP/Jim Watson
Na quinta-feira (23), o ministro da Defesa da Venezuela afirmou que agentes da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês) já estão no país. A declaração foi dada após o presidente Donald Trump autorizar ações de Inteligência contra alvos ligados ao chavismo.
“Sabemos que a CIA está presente na Venezuela”, disse o ministro Vladimir Padrino. “Podem enviar quantas unidades quiserem em operações encobertas a partir de qualquer ponto do país. Qualquer tentativa vai fracassar.”
Diante da escalada, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que não quer guerra com os EUA e pediu, em inglês, que Trump também evite o conflito.
"No crazy war, please. Não à guerra louca. No crazy war. A Venezuela quer paz", disse Maduro na quinta-feira.
Venezuela mobiliza militares contra possível invasão dos Estados Unidos
Na semana passada, o jornal The New York Times afirmou que as ações autorizadas pela CIA por Trump podem incluir “operações letais” e outras iniciativas da inteligência americana no Caribe. Com isso, os alvos poderiam ser Maduro e integrantes do governo venezuelano.
Trump disse que autorizou operações secretas porque a Venezuela tem enviado drogas e criminosos para os Estados Unidos. No dia 15 de outubro, ao ser perguntado se agentes de inteligência teriam autoridade para eliminar o presidente venezuelano, ele preferiu não responder.
Desde o mês passado, segundo a imprensa americana, o governo Trump avalia uma operação militar que pode incluir ataques à Venezuela. Estruturas ligadas a cartéis de drogas estariam entre os possíveis alvos. Autoridades dizem que o objetivo final seria tirar Maduro do poder.
Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles, grupo classificado recentemente pelo governo Trump como organização terrorista internacional.
Neste contexto, o governo americano pode considerar o presidente da Venezuela um alvo legítimo ao anunciar ataques contra cartéis.
Nesta quinta-feira (23), Trump afirmou que os Estados Unidos devem realizar ações militares em terra contra cartéis. Ele não citou diretamente a Venezuela. Ele disse ainda que não precisará pedir ao Congresso uma declaração de guerra.
"Acho que vamos apenas matar as pessoas que estão trazendo drogas para o nosso país. Certo? Vamos matá-las."
Já o secretário de Guerra, Pete Hegseth, afirmou que os militares americanos irão caçar e matar todos os “terroristas” que traficam drogas para os Estados Unidos.
"Estas são organizações terroristas estrangeiras designadas. São o Estado Islâmico e a Al-Qaeda do Hemisfério Ocidental. Nossa mensagem para essas organizações terroristas estrangeiras é: trataremos vocês como tratamos a Al-Qaeda."
Depois de atacar barcos no Caribe e Pacífico, EUA anunciam ações terrestres
VÍDEOS: em alta no g1
Veja os vídeos que estão em alta no g1